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LUANDA
As primeiras manifestações em Luanda surgiram um pouco depois da primavera árabe, a reacção do regime foi visceral, ao ponto, de ser considerada temerária e patética. Na fase inicial, os principais partidos da oposição adoptaram posições neutrais, não caíram na tentação do aproveitamento político através da demagogia e do populismo fácil, sempre tão frequentes nestas ocasiões, mas o descontentamento existia e era real.
No entanto, com o intensificar do fenómeno, assistiram-se à manifestações de apoio ao Governo e as respectivas contra-manifestações, algumas de grande alcance, surpreendentes ou não, pela sua grande capacidade de mobilização, tendo em conta os parcos meios de alguns partidos na cena nacional. O vento passou, e as sementes foram lançadas, apenas os ditos temerários eram conscientes do alcance destas manifestações. Os restantes mortais vivíamos no limbo, desconhecíamos uma realidade chamada ex-combatentes. As sementes cresceram, a insatisfação perante as desigualdades e as dificuldades experimentadas pela generalidade da população no seu quotidiano, deu lugar, a um descontentamento cada vez mais profundo, em democracia o alvo do mal-estar da população é sempre o Governo, uma realidade com a qual as autoridades se sentem ainda bastante desconfortáveis. A população foi perdendo medo em expressar o seu descontentamento, enquanto, no executivo o medo foi-se apoderando. Um medo justificado, o medo do contágio transversal a toda à sociedade, parece-me, que aconteceu, o sintoma, as manifestações dos ex-combatentes na baixa da Luanda com as forças da ordem, obrigadas a usar o recurso à força para dispersar. Tanta desigualdade, tanta riqueza mal distribuída, apenas, poderia contribuir para uma bomba social, com um equilíbrio instável. É preciso reconhecer que houve uma transformação no país, talvez, não com a velocidade desejada e nem com as prioridades estabelecidas, mas existiu uma transformação, mas é uma transformação que apenas abrange uma minoria e exclui uma maioria. Não convém esquecer que em Luanda ainda prolifera muito arsenal de Guerra e quem não tem nada a perder, não se importa de sacrificar a sua vida e a dos demais. O Governo deveria estar mais atento e consciente a está realidade porque um dia corremos o risco de acordar e não estar mais no purgatório mas sim no inferno. Miguel Amaral
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A Instituição Financeira Millennium BCP acaba de conhecer uma profunda alteração na sua presidência, saí Carlos Santos Ferreira e entra Nuno Amado. Penso que o timing e a mudança eram necessárias, dado o enfraquecimento da Instituição Financeira. Como o próprio Carlos Santos Ferreira reconheceu, muita coisa foi feita para recuperar a solidez do Banco mas ainda pairava um custo/passivo reputacional sobre a Instituição. O maior pecado de Santos Fereira foi entrar numa Instituição Financeira em guerra com o peso de uma figura politizada, algo que, acabou por marcar toda a sua trajectória no Millennium BCP.
O sucessor, Nuno Amado, tem no seu Curriculum a Presidência do Totta Santander, o único dos grandes bancos portugueses a apresentar lucros. Creio que Nuno Amado não é uma figura mais omnipresente na Banca portuguesa devido à sombra de Horta Osório, por isso, considero a escolha acertada apesar da situação complexa em que vive a Banca portuguesa sobre o espectro do Euro. É importante que o novo Presidente do Millennium BCP seja imune à influências accionistas, a prioridade é devolver ao Millennium BCP à imagem de grande Banco que perdeu nestes últimos anos, facto bem reflectido na cotação em Bolsa, é necessário que o Banco volte a ser uma máquina de fazer dinheiro, algo apenas possível se existir uma boa gestão. Continuo a pensar que a aposta para recuperar a solidez financeira é a concentração accionista, o Banco deve ter como base grandes accionistas de referência, portanto, o caminho do reforço accionista da Sonangol no Millennium BCP parece-me correcto, no entanto, não é imune de riscos. A percepção de que é necessária uma maior concentração accionista não passa desapercebida ao próprio Banco, não creio que seja inocente o rumor que corre, que indica uma eventual entrada de um novo accionista chinês na estrutura do Banco. A cotação bolsista, o reforço de capital e a necessidade de liquidez proporcionam um ambiente propicio a uma nova entrada. A estrutura de poder do Millennium BCP poderá dividir-se entre capital angolano e chinês, diga-se, em abono da verdade, a influência angolana já se faz sentir em todos os órgãos do Banco. É uma consequência natural, não faria sentido ser o maior accionista e não ter capacidade de influência/poder no Banco, mas este alegado poder não deve colidir com o trabalho da nova administração. A prioridade dos accionistas é velar por uma boa governação da Instituição, somente, assim poderá ter força para absorver os impactos e as incertezas futuras. Os impactos, são os riscos de exposição da Instituição, nomeadamente, à divida grega, com uma eventual reestruturação ou um default no horizonte, as imparidades já se fizeram sentir na mais recente apresentação de Resultados do Banco, depois há que considerar uma eventual saída da Grécia do Euro e as consequências que tremendo desastre terá sobre a economia portuguesa, sobretudo, no seu sistema financeiro, entenda-se, Bancos. As perspectivas são negativas, tudo o indicia, somente, os mais fortes irão sobreviver. Miguel Amaral _Creio que a recente aquisição de 21,35% do capital da EDP, mais o direito de preferência sobre os remanescentes 4% em posse do Estado português, pela China Three Gorges, num negócio cifrado em 2,7 mil milhões de Euros, deveria fazer reflectir Angola sobre o perfil do investimento chinês. Notamos que o investimento chinês em Angola é muito vocacionado para o baixo valor acrescentado, nomeadamente, com um interesse muito incisivo no acesso e na exploração dos recursos naturais, com o objectivo primordial de abastecer as necessidades de energia da sua economia, mais concretamente, da sua indústria.
Do ponto de vista da economia angolana é um trade-off pouco vantajoso, fornece matérias-primas em estado bruto, com pouco valor incorporado, sem qualquer tipo de transformação, porque ela ocorre no país importador, depois de transformados são exportados de volta para Angola. O caso mais típico e paradoxal, é a exportação do crude, o maior responsável pelas exportações angolanas, ao mesmo tempo, o crude refinado é uma das maiores componentes das importações angolanas. Notamos que Angola tem pouca capacidade para atrair Investimento Estrangeiro de qualidade, que seria fulcral para a dita diversificação da sua economia, depois começamos a sentir que a dita diversificação não passa de um chavão, apenas, um projecto para ficar no papel. É necessária uma mudança no funcionamento da economia angolana com o intuito de ser mais atractiva ao investimento nacional e estrangeiro. Caso contrário, Angola será sempre, apenas um país com capacidade para atrair investimento com baixos índices de competitividade, logo, os seus níveis de desenvolvimento serão inevitavelmente mais lentos. Obviamente, Angola não possui os recursos, nem o músculo financeiro chinês, mas as opções de investimento chinesas são bastante evidentes, ter posições de domínio em empresas de elevado know-how, como a EDP, um know-how que os chineses carecem neste momento e estão dispostos a comprar, proporcionar financiamento para que a empresa possa continuar a crescer no mercado da América Latina e abrir o mercado asiático. Neste prisma o preço pago pela empresa tendo em conta o seu valor até foi baixo. O ponto de reflexão é este, a China tem excesso de liquidez, falta de know-how e falta de recursos naturais, Angola possui recursos naturais mas não possui know-how, nem liquidez, não faria sentido Angola vender os seus recursos naturais num mix know-how e liquidez? E paulatinamente reduzindo a sua dependência em relação ao exterior? Miguel Amaral _Na mais recente passagem do FMI por Luanda, este organismo internacional alertou para o risco da exposição angolana à Portugal. As autoridades angolanas tentaram desdramatizar a situação argumentando que a exposição aos fluxos financeiros portugueses é reduzida.
No entanto, penso que o risco é real e mais grave, não se resume a uma questão de fluxos financeiros, mas também é económica. Neste momento, a economia portuguesa encontra-se intervencionada pela Troika (UE, BCE e FMI) porque a sua economia perdeu acesso aos mercados financeiros, e não é liquido que após o pacote de ajuda Portugal possa voltar ao mercado e de forma comportável. Este condicionamento, repercute-se na economia real, senão existe acesso a financiamento vai-se gerar uma situação de sobre-capacidade que não vai ser absorvida pela economia porque os seus agentes vão deixar de consumir e por inerência investir, vamos assistir a uma contracção violenta da procura interna. Nesta conjuntura difícil, vai ocorrer uma dura recessão, muitos organismos internacionais apontam para 4% ou 5% do PIB, esta recessão vai ser muito mais violenta porque se vai realizar num cenário desalavancamento da economia, o Estado, as empresas e as famílias estão excessivamente endividadas. Esta circunstância afecta de sobremaneira a economia angolana porque as empresas portuguesas têm uma grande exposição a este mercado, para muitas empresas portuguesas, Angola representa já mais de 50% do seu portefólio de negócios. Por isso, faz sentido o FMI considerar Angola um activo de refúgio para a economia portuguesa. A questão, é que muitas empresas estarão sob três forças; a necessidade de reduzir a sua sobre-capacidade, a necessidade de reduzir o endividamento e a falta de crédito no sistema bancário português. A banca portuguesa está num duro processo de recapitalização tutorado pela Troika, sem acesso a crédito não existe comércio externo, as empresas portuguesas de um modo geral sentirão necessidade de reduzir as suas operações com o objectivo de gerar liquidez, portanto, continuarão a desinvestir, sendo Angola um mercado preferencial, é natural que a economia angolana sinta as repercussões da recessão portuguesa e da falta de capacidade investimento das suas empresas. É um cenário trágico para Angola? Não, mas é preocupante e merecedor de análise. Miguel Amaral _Alguns conceituados analistas internacionais prevêem o abrandamento da economia chinesa num curto espaço de tempo. Existem alguns sinais económicos que são o pronúncio desta eventualidade, nomeadamente, a contracção pelo terceiro mês consecutivo da actividade manufactureira, o crescimento da borbulha no sector da construção, os preços dos activos chineses entraram numa tendência de caída e as empresas do sector têm cada vez mais dificuldades em financiar-se. A dívida dos Governos locais atinge 27% do PIB e considera-se que 80% é incobrável. As empresas chinesas cotadas em Wall Street caíram consideravelmente, depois, de ser conhecido a manipulação das suas contabilidades.
Uma caída abrupta da Bolsa Chinesa poderá ter o efeito perverso de corroer as poupanças das famílias chinesas, provocar falências em massa e disparar o desemprego chinês. O contágio com o resto do mundo seria imediato, com consequências directas para Angola, tanto ao nível do financiamento da própria economia, como no Investimento Directo Chinês no país, bem como no apetite pela procura de recursos naturais. Um efeito negativo na economia chinesa tem um efeito imediato na economia angolana. Uma menor pressão na procura de commodities implicará uma queda nos preços, logo nas receitas fiscais do Estado angolano, e possivelmente, uma quebra no PIB e um deficit na conta-corrente. Existe ainda, mais uma questão, que convém frisar, a existência em Angola de uma borbulha imobiliária ou um sobreaquecimento do sector? Quando irá estoirar? Será em simultâneo com a China? Quais as consequências? A interconexão entre a economia chinesa e angolana é forte, para o bem e para o mal. O próprio modelo político chinês poderia estar em causa, num cenário de grave crise económica, ele baseia-se na seguinte premissa, o povo abdica do processo de tomada de decisões, em troca, o Estado governa de forma centralizada, com o objectivo de criar emprego e promover uma crescente prosperidade do povo chinês. Neste, ponto existe uma divergência, em relação à Angola, o Executivo ainda foi capaz de promover esta forte onda de criação de emprego e trilhar o caminho da prosperidade. Curiosamente, o Governo chinês começa a ser assolado por alguns dos males mais recorrentes em Angola, como, por exemplo, a corrupção ao nível dos seus funcionários públicos, que apesar, de ser punida pela pena capital, não tem desmobilizado esta práctica na China, por outro lado, assistimos a uma cada vez maior assimetria social no país, os trabalhadores das grandes cidades chegam a ganhar 3 vezes mais do que os camponeses, sem referir a ascensão meteórica dos multimilionários chineses. Não surpreende, por isso, que no último ano na China tenham ocorrido mais de 180.000 manifestações de rua clamando por uma maior Justiça Social. Existem semelhanças entre os problemas que assolam Angola e China, a principal, diferença é que os problemas chineses têm um impacto muito maior tanto na economia angolana como mundial, mas o caldo social de onde surgem, detêm os mesmos nutrientes. Portanto, um problema grave na China terá sempre um impacto grande em Angola, é curioso, verificar que muitos dos problemas que existem na economia chinesa são semelhantes à angolana mas com dimensões totalmente distintas. Possivelmente, este seja um dos factores que explica a cumplicidade Chino/Angolana, sem mencionar o interesse estratégico chinês. Miguel Amaral Nesta última década assistimos a um fortíssimo crescimento real do PIB em Angola, a fase ascendente inicia-se em 2003 com um ponto de partida inferior à 5%, até 2007 com um valor superior à 20%, mas sem atingir os 25%. Em 2008, já notamos indícios de desaceleração, o crescimento real do PIB não chegou a alcançar os 15%, e em 2009 foi a quebra total com o PIB a situar-se nos 2,4%. Convém ter em atenção, a inflação angolana situa-se num patamar com dois dígitos, variando entre os 12% à 15%.
O forte ciclo expansivo da economia angolana ficou a dever-se ao período de paz e a evolução ascendente do preço do crude até 2008. O ano de 2008 coincidiu com o crash à nível mundial nos preços da commodity e com a falência do Lehman Brothers. No entanto, não deixa de intrigar o fortíssimo colapso do PIB angolano em 2009, a explicação mais plausível, pode encontrar-se na má gestão do ciclo económico feita pelo Governo. Quando a economia entra num forte ciclo expansivo as receitas fiscais crescem mais do que a própria economia, na maioria das vezes, os Governantes mais incautos deixam-se deslumbrar por este fenómeno, o problema, é quando a economia entra na fase recessiva, as receitas fiscais caem de forma abrupta. Isto acontece porque as famílias, as empresas e o sector público perante a constatação da expansão da economia aumentam os seus níveis de consumo/gastos, algo, que contribui para intensificar as pressões inflacionistas, antecipando, deste modo, a futura recessão. Quando a recessão chega as famílias, as empresas e o sector público diminuem o seu nível de consumo/gasto, o que contribui para diminuir o nível de receitas do Estado. Esta má gestão do ciclo económico poderá ter sido responsável pela ruptura da tesouraria angolana, com os consequentes atrasos nos pagamentos aos seus fornecedores e a necessidade de pedir a intervenção do FMI com a celebração de um Stand By Agreement para regularizar a Balança de Pagamentos. O mercado angolano não é fácil, ao contrário, do que se possa pensar, realmente, o CEO da maior construtora portuguesa tem razão, é necessário musculo financeiro para poder estar em Angola. O mercado tem um conjunto de especificidades muito próprias, e quem não tiver flexibilidade, é melhor pensar duas vezes. Também registei com particular interesse as afirmações de Aguinaldo Jaime, apelando para a responsabilidade social das empresas, é um aspecto bastante importante, as empresas devem ter uma preocupação em dignificar os seus empregados mas também um papel junto das comunidades onde desenvolvem as suas actividades. Existe cada vez mais uma tendência das empresas para desenvolverem actividades que contribuem para o bem-estar das comunidades, promovendo uma integração entre a empresa e a comunidade, por exemplo, acções de voluntariado, acções de formação e acções de selecção. Ao nível do Estado penso ser importante o fomento da integração social com a erradicação da pobreza, seria útil estudar, o que alguns países fizeram para lutar contra esse problema, o Brasil deveria ser uma referência para Angola. O programa Bolsa de Família foi muito bem sucedido no Brasil, podia-se desenvolver um programa semelhante de acordo com a escala de Angola, penso que seria algo muito positivo, obrigaria a uma modernização da Administração Pública para acompanhar, controlar, fiscalizar e avaliar o programa, mas também seria importante para promover a bancarização da própria população, algo que contribuiria para dar um salto qualitativo no país. Miguel Amaral Angola conseguiu um grande feito eleger uma Miss Universo. O país foi notícia em todo o mundo e em todos os meios de comunicação. Creio que Angola nunca teve tanta notoriedade positiva no mundo como com esta coroação. Nem o CAN 2010, que Angola organizou conseguiu um efeito mediático tão impressionante como esta eleição. E não foi necessário realizar um investimento tão avultado como o CAN 2010 para conseguir tamanho protagonismo. Aliás, se o Governo pretendesse lançar uma campanha de promoção mundial do país com o mesmo grau de exposição e de protagonismo teria que gastar uma quantidade indigente de dinheiro.
Este feito de Leila Lopes é uma oportunidade única de promover Angola, de construir uma marca país, expor os atributos positivos de Angola. Não sei se Angola tem uma Entidade própria de promoção do país no exterior, em caso negativo, seria caso para pensar constituir uma ou contratar uma empresa especializada para o efeito. Esta eleição de Miss Universo tem um valor económico tremendo para o país, o primeiro efeito, que se fez sentir foi alimentar a auto-estima dos angolanos, o segundo efeito, deveria ser uma alavanca para os empresários angolanos promoverem a marca das suas empresas e dos seus produtos, e um terceiro efeito, esta eleição poderá representar um balão de oxigénio para o próprio Governo. O Governo não pode desperdiçar esta oportunidade e capitalizar este feito na promoção da economia angolana, nomeadamente, destacando os atributos mais positivos do país e continuar com o esforço do desenvolvimento angolano. Será fundamental, o país como um todo, fazer um esforço de marketing e reposicionar Angola no lugar que merece, um estimulo mais forte do que este será difícil de encontrar. Será uma pena se Angola não souber aproveitar está oportunidade para dar um salto qualitativo. Entretanto, os Angolanos estão de Parabéns. Miguel Amaral Hoje, tive a oportunidade de recordar um estudo da KPMG, creio de 2009, que apontava Angola, como o terceiro maior mercado bancário da África-subsariana. Acredito que possa ser perfeitamente verdade, não fiquei surpreso. No entanto, quando penso na dimensão do Sistema Bancário Angolano em Angola, sou obrigado a pensar, que não detém uma dimensão demasiado relevante. A cobertura bancária pelo território nacional, ainda é bastante deficitária, além disso, não acredito que, a generalidade, do Sistema Bancário Angolano detenha uma carteira de activos demasiado elevada.
O Sistema Bancário Angolano encontra-se concentrado nos grandes centros urbanos, nomeadamente, em Luanda. Apesar, de considerar o Sistema Bancário pouco expressivo, ele é extremamente concorrencial, porque para a dimensão que possui, existe um excesso de oferta bancária. Há Bancos a mais. A concorrência, é extremamente forte, os Bancos Portugueses têm um papel de destaque, principalmente, porque partem de uma base muito maior e são detentores de um know-how melhor. Mas o mercado é feroz, os Bancos Angolanos batem-se bem. Os Angolanos que preveligiam uma oferta mais diversificada de produtos e um atendimento mais especializado, tendencialmente, procuram Bancos Portugueses, normalmente pertencem a classes sociais mais elevadas, enquanto, os Angolanos animados por um maior sentimento de Angolanidade procuram os Bancos Nacionais. Creio que não existe nada de anormal, neste facto, é apenas o mercado a funcionar. No entanto, não posso deixar de constatar uma falta de sofisticação no mercado Bancário Angolano, nomeadamente, ao nível das empresas. Existe um conjunto de serviços financeiros que não estão disponíveis para as empresas Angolanas porque simplesmente não existem, algo que, condiciona a gestão da tesouraria das empresas. É um mercado ainda imaturo, como já foi referido neste espaço, e sem um mercado Bancário forte, não é possível ter uma Bolsa de Valores credivel, por muita vontade e pensamento positivo que possam existir na classe dirigente. Existe ainda um outro factor no Sistema Bancário Angolano, que é motivo de preocupação, a existência ou não, de sistemas de avaliação de riscos e a sua validade. É um detalhe muito importante, principalmente, em Angola, pela forma como funciona a sua economia em certos sentidos. Quantas vezes, já não aconteceu, o financiamento para um projecto ser recusado porque não é considerado viável, e depois os promotores do projecto recorrem ao sistema, para o mesmo Banco que recusou o projecto, acabar por conceder o financiamento solicitado? Nem menciono, o desgraçado que ousou chumbar o projecto à ilustre figura. Mas seria interessante conhecer os níveis de morosidade e a magnitude dos incobráveis do Sector Bancário Angolano (refiro-me aos reais). Não foi há muito tempo que a imprensa angolana dava a notícia que dois empresários angolanos no seu conjunto deviam mais de US$ 300 milhões à Banca Angolana. O mais deplorável da situação, parece que um dos empresários, escreveu uma carta a um Alto-Dirigente do MPLA para interceder junto do Banco, por sinal público, onde tinha contraído a dívida, para provavelmente, obter, uma Amnistia Financeira, a custa do contribuinte Angolano. São precisamente este tipo de situações que dão Má Imagem e Fama ao MPLA, e depois alimentam as especulações de corrupção e de tráfico de influências. Situações desta natureza deveriam ser veemente repudiadas pelo próprio partido, porque são questões centrais da sociedade angolana e com as quais se defronta no seu dia-a-dia. Os responsáveis políticos que governam o país, não deveriam esquecer em nenhuma circunstância a seguinte máxima: A mulher de César não basta ser séria, tem que parecê-lo. No meu entendimento, num futuro próximo, esta forma de funcionar, pode revelar-se problemática, todos sabemos que a base do crescimento económico em Angola é o petróleo, mas também temos assistido a um Boom no Imobiliário, questiono-me, será que todos os Bancos Angolanos foram prudentes na concessão de créditos? Quando a Borbulha do Imobiliário estoirar em Angola, não iremos assistir a uma catadupa de falências no sector Bancário Angolano? Poderemos, sempre fazer de conta que não faliram e conviver com zombies bancários. Miguel Amaral Ainda não são conhecidos todos os pormenores da venda do BPN ao BIC Portugal, provavelmente, nem nunca serão conhecidos. No entanto, com os dados já disponíveis, é possível chegar a uma conclusão, o BIC Portugal, fez aparentemente um excelente negócio. Porém, este negócio detém as suas subtilezas, merecedoras de reflexão, se o BIC Portugal pretender, que esta operação seja um sucesso total.
O BIC Portugal tinha uma base operacional reduzida em Portugal, basicamente, o seu objectivo estratégico era ser uma plataforma para os empresários portugueses que pretendiam investir em Angola e ser também uma plataforma para os empresários angolanos que pretendiam investir em Portugal. O Banco em Portugal tinha uma dimensão que poderíamos considerar inexpressiva. Com esta aquisição do BPN, o cenário alterou-se substancialmente, apesar, da operação não conferir um estatuto de um grande banco em Portugal, permite ao BIC Portugal dar um salto apreciável, porque incorpora a rede comercial, ou seja, entra no retalho, mas também o centro de empresas do BPN. Além disso, com uma particularidade importante, sem ficar sobredimensionado para a actual realidade económica de Portugal, que como sabemos, é extremamente difícil. Será um grande desafio para esta Administração fazer esta operação rentável. Penso que é precisamente na questão da rentabilidade do Banco que residem as grandes subtilezas desta operação. Senão vejamos, o BPN foi nacionalizado, o custo da nacionalização está estimado em 2,4 mil milhões de euros, consta que o Banco foi ou tem que ser recapitalizado em 500 milhões de euros. O custo total da nacionalização para o erário público português, de forma grosseira, estima-se em 3 mil milhões de euros. Convém ter presente que os 2,4 mil milhões de euros são imparidades que foram transferidos para 3 veículos públicos, cuja missão, impossível, é inverter as imparidades. Se formos realistas quem vai pagar os 3 mil milhões de euros são os contribuintes portugueses. É notório que a nacionalização do BPN conduziu a socialização dos prejuízos. Do outro lado, da balança, temos o BIC Portugal, que apenas por 40 milhões de euros comprou um conjunto de activos tangíveis e intangíveis (capital humano) do BPN. Diga-se de passagem com um enorme desconto. O BIC Portugal soube aproveitar a oportunidade e o momento. No entanto, existe aqui uma enorme desproporção, é precisamente, nesta desproporção, que reside o ponto crítico do negócio, esta desproporção pode dar origem na sociedade portuguesa a um sentimento de enorme aversão em relação ao BIC Portugal, porque o cidadão comum pode pensar, o BIC Portugal fez o seu negócio da china a custa do contribuinte português. No entanto, o BIC Portugal não tem responsabilidade nenhuma, nem na nacionalização do BPN, nem no erro tremendo que se veio a revelar. Por isso, o fundamental neste negócio, será diluir a imagem, a marca, a existência do BPN da memória dos portugueses, como se a marca BPN nunca tivesse existido, quanto mais depressa desaparecer, melhor para o BIC Portugal. No entanto, uma factura de 3 mil milhões de euros custa a pagar e é muito difícil de ser esquecida. Miguel Amaral O Investimento Directo Estrangeiro (IDE) português começou a perder fulgor, nomeadamente, nos países de expressão portuguesa. O primeiro sinal de quebra foi Moçambique, agora a quebra foi em Angola, já não se trata de um fenómeno localizado, tem mais aspecto de uma tendência globalizada no IDE português. É apenas, o reflexo da situação económica que vive Portugal.
Tenho muita pena em desapontar o Dr. Aguinaldo Jaime, mas não vai ser um fenómeno temporário, bem pelo contrário, tudo aponta para um fenómeno de longo prazo. A economia portuguesa já está em recessão há mais de um trimestre, com uma contracção que se estima de 0,8%, além disso, o país foi alvo da forte voracidade dos mercados que fizeram disparar o custo da divida, ao mesmo tempo os ratings da República portuguesa baixavam, o país acabou por sucumbir e teve que pedir ajuda externa. As consequências imediatas, eleições e um 2011 comprometido, sem mencionar os anos seguintes. É preciso ter noção, que com a ajuda externa, Portugal ficou fora dos mercados, e além disso, vai ser obrigado a um férreo programa de austeridade fiscal. A consequência, é o agravamento do estado recessivo do país, Portugal poderá estar em recessão até finais de 2012, com uma contracção de 4%. Neste clima bastante recessivo, vamos assistir ao aumento galopante das insolvências e da morosidade, portanto, os bancos portugueses vão ser extremamente escrupulosos e vão fechar a torneira do crédito. Sem financiamento bancário, não existe IDE português, nem comércio externo, portanto, a situação é tudo menos temporária, aliás, a tendência será para o agudizar da contracção do IDE português com a intensificação do programa de austeridade e a ausência das prometidas perspectivas de crescimento da economia portuguesa. Miguel Amaral |